31 julho, 2016

Como curei minhas feridas emocionais e me libertei



1. Não tenha medo da dor das feridas emocionais

Dor e sofrimento não podem ser escondidos em um canto secreto de nosso ser. Todas as feridas sangram, toda dor emocional chora, grita ou é sentida em todo o abismo de solidão.

Suas emoções não são suas inimigas e nem o definem. Isto significa, por exemplo, que você pode sentir a dor da decepção em um momento muito específico de sua vida, mas toda a sua existência não será (ou não deveria ser) categorizada por esse sentimento.

A dor se vive no “aqui e agora” e deve ser entendida, compreendida e gerenciada da forma mais saudável possível. Caso contrário, optar por esconder essas emoções, trancando-as por toda a vida, tornará a nossa liberdade pessoal e emocional uma ilusão.

2. Você não pode mudar quem lhe fez (ou lhe faz) mal

Se você tem que conviver com uma família, pais ou irmãos que o machucam de alguma forma, você deve ter muito claro que você não pode mudar as pessoas que lhe causam mal. Você não pode mudar a maneira deles entenderem as coisas ou a personalidade dos mesmos.

Entretanto, você pode ser emocionalmente livre e curar a influência deles sobre você. Você é o que importa aqui e agora, você é quem está sofrendo
.
Muitas dessas coisas que você internalizou do seu passado “coçam” e até criam uma ferida invisível, e é aí que as prisões interiores se encontram. Liberte-se, entenda que isso não deve mais causar danos a você, tente perdoar mas, ao mesmo tempo coloque limites.

Cure as palavras ditas e as engolidas, cure a dor da decepção ou do desprezo, deixe os fardos irem de vez, levante a sua voz para declarar que você vai deixar de ser uma vítima. Você está curado, você renasceu e você está emocionalmente livre.

3. Cure as suas raízes

O que queremos dizer com curar as suas raízes? É sem dúvida uma questão complexa que envolve muitas áreas pessoais, muitas experiências e construções psicológicas. No entanto, considere essas dimensões.

Reflita sobre isto:

– Desative o ego do seu dia a dia, permita-se ter uma visão mais ampla e livre das coisas.

– Não se submeta às circunstâncias nem lute contra elas fomentando o ódio ou o rancor
Evite os extremos porque as duas dimensões irão aprisioná-lo e arrastá-lo. Mantenha o seu equilíbrio, a paz interior e priorize a sua liberdade emocional acima de tudo.

– Não se proteja sob um positivismo pouco objetivo. Não finja sorrisos quando você não os sente; isso é tristeza, porque dessa forma o que você faz é enfeitar sua árvore com folhas, quando as suas raízes estão doentes.

– Sinta suas emoções e administre-as corretamente, pois caso contrário você irá mascarar o seu crescimento pessoal. Você precisa ser corajoso e honesto consigo mesmo.


 From : http://amenteemaravilhosa.com.br


15 julho, 2016

A Lua que não dei ......









A Lua que não dei.

Compreendo pais - e me encanto com eles - que desejariam dar o mundo de presente aos filhos.

E, no entanto, abomino os que, a cada fim de semana, dão tudo o que filhos lhes pedem nos shoppings onde exercitam arremedos de paternidade.

 E não há paradoxo nisso. Dar o mundo é sentir-se um pouco como Deus, que é essa a condição de um pai.
Dar futilidades como barganha de amor é, penso eu, renunciar ao sagrado.

Volto a narrar, por me parecer apropriado à croniqueta, o que me aconteceu ao ser pai pela primeira vez.
Lá se vão, pois, 45 anos.

Deslumbrado de paixão, eu olhava a menina no berço,
via-a sugando os seios da mãe, esperneando na banheira, dormindo como anjo de carne.
 E, então, eu me prometia, prometendo-lhe:

"Dar-lhe-ei o mundo, meu amor.
E não lho dei.”

E foi o que me salvou do egoísmo, da tola pretensão e da estupidez de confundir valores materiais com morais e espirituais.

Não dei o mundo à minha filha, mas ela quis a Lua.

E não me esqueço de como ela pediu, a Lua, há anos já tão distantes.
 Eu a carregava nos braços, pequenina e apenas balbuciante, andando na calçada de nosso quarteirão, em tempos mais amenos, quando as pessoas conversavam às portas das casas.

Com ela junto ao peito, sentia-me o mais feliz homem do mundo, andando cantarolando cantigas de ninar em plena calçada.
Pois é a plenitude da felicidade um homem jovem poder carregar um filho como se acariciando as próprias entranhas.

Minha filha era eu e eu era ela. Um pai é, sim, um pequeno Deus, o criador. E seu filho, a criatura bem-amada. E foi, então, que conheci a impotência e os limites humanos.

 Pois a filhinha - a quem eu prometera o mundo - ergueu os bracinhos para o alto e começou a quase gritar, assanhada, deslumbrada:
 "Dá, dá, dá..."
Ela descobrira a Lua e a queria para si, como ursinho de pelúcia, uma luminosa bola de brincar.
 Diante da magia do céu enfeitado de estrelas e de luar, minha filha me pediu a Lua e eu não lha pude dar.

A certeza de meus limites permitiu, porém, criar um pacto entre pai e filhos: se eles quisessem o impossível, fossem em busca dele. Eu lhes dera a vida, asas de voar, diretrizes, crença no amor e, portanto, estímulo aos grandes sonhos.

 E o sonho da primogênita começou a acontecer, num simbolismo que, ainda hoje, me amolece o coração. Pois, ainda adolescente, lá se foi ela embora, querendo estudar no Exterior.
Vi-a embarcar, a alma sangrando-me de saudade, a voz profética de Kalil Gibran em sussurros de consolo:

"Vossos filhos não são vossos filhos, mas são os filhos e as filhas da ânsia da vida por si mesma. Eles vêm através de vós, mas não de nós. E embora vivam convosco, não vos pertencem. Vós sois os arcos dos quais vossos filhos são arremessados como flechas vivas."

Foi o que vivi, quando o avião decolou, minha criança a bordo. No céu, havia uma Lua enorme, imensa. A certeza da separação foi dilacerante.

Minha filha fôra buscar a Lua que eu não lhe dera.

E eu precisava conviver com a coerência do que transmitira aos filhos:
 "O lar não é o lugar de se ficar, mas para onde voltar.
" Que os filhos sejam preparados para irem-se, com a certeza de ter para onde voltar quando o cansaço, a derrota ou o desânimo inevitáveis lhes machucarem a alma."

Ao ver o avião, como num filme de Spielberg, sombrear a Lua, levando-me a filha querida, o salgado das lágrimas se transformou em doçura de conforto com Kalil Gibran:

Como pai, não dando o mundo nem Lua aos filhos, me senti arqueiro e arco, arremessando a flecha viva em direção ao mistério.

Ora, mesmo sendo avós, temos, sim e ainda, filhos a criar, pois família é uma tribo em construção permanente.
 Pais envelhecem, filhos crescem, dão-nos netos e isso é a construção, o centro do mundo onde a obra da criação se renova sem nunca completar-se.

De guerreiros que foram, pais se tornam pajés. 
E mães, curandeiras de alma e de corpo. 

É quando a tribo se fortalece com conselheiros, sábios que conhecem os mistérios da grande arquitetura familiar, com régua, esquadro, compasso e fio de prumo.

E com palmatória moral para ensinar o óbvio: se o dever premia, o erro cobra.
 Escrevo, pois, de angústias, acho que angústias de pajé, de índio velho. A nossa construção está ruindo, pois feita em areia movediça.

 É minúsculo o mundo que pais querem dar aos filhos: o dos shoppings.
E não há mais crianças e adolescentes desejando a Lua como brinquedo ou como conquista.

 Sem sonhos, os tetos são baixos e o infinito pode ser comprado em lojas.

Sem sonhos, não há necessidade de arqueiros arremessando flechas vivas.

Na construção familiar, temos erguido paredes.

Mas, dentro delas, haverá gente de verdade?


Escritor e Jornalista Cecílio Elias Netto