Ao
centro da vida
Chegou
ao meio da vida e sentou-se para tomar um pouco de ar.
Não
sabia explicar.
Não
era cansaço, nem estava perdida.
Notou-se
inteira pela primeira vez em todos esses anos.
Parou
ali, entre os dois lados da estrada e ficou observando as margens da sua
história, a estrada da vida ficando fininha, calando-se de tão longe que ia.
Estava
em paz observando a menina que foi graciosa, cheia de vida. Estava olhando para
si mesma e nem notou.
Ali,
naquele instante estava recebendo um presente.
Desembrulhava
silenciosamente a sabedoria que tanto pediu para ter mais.
Quando
a mulher chega à metade da estrada da vida, começa lentamente a ralentar o
passo.
Já
notou como tem gente que adora conturbar a própria rotina, alimentar o próprio
caos? Ela não.
Não
mais.
Deixa
que passem, deixa que corram, a vida é curta demais para acelerar qualquer
coisa.
Ela
quer sentir tudo com as pontas dos dedos, ela quer notar o que não viu da
primeira vez. Senhora do seu próprio tempo.
Percebeu,
à metade da vida, que caminhou com elegância, que viveu com verdade, que guiou
a própria sombra na estrada em direção ao amor.
E
como amou! Amor por si, pelos outros, amou em dobro, amou sozinha, amou amar.
A
mulher ao centro da vida traz a leveza que os anos teceram, pacientemente.
Escuta
bem mais, coloca a doçura à frente das palavras, guarda as pessoas com
preciosismo.
Aquela
mulher já perdeu pessoas demais.
Ao
meio da estrada, ela já não dorme tanto, mas sonha bem mais.
Sonha
pelo simples exercício de sonhar.
Sonha
porque notou que é o sonho que tempera a vida.
Aprendeu
a parar de ficar encarando as linhas do corpo.
Seu
espírito teso, seu riso aberto, sua fé gigante não têm rugas, nem celulite, sem
encanação.
Descobriu
que o segredo é prestar atenção no melhor das coisas, nas qualidades das
pessoas, nas belas costas que tem e deixá-las ao alcance da vista dos outros.
Sentada
ali, ao centro da própria vida, decidiu seguir um pouco mais.
Há
mais estrada para caminhar, mais certezas para perder, mais paixão para
trilhar.
Não
há dádiva maior do que compreender-se, que encontrar conforto para morar em si
mesmo, que perdoar-se de dentro para fora.
Ao
centro da vida ela descobriu que a gente não se acaba, a gente vai mesmo é se
cabendo, a cada ano um pouco mais.
Text : Diego Engenho Novo