21 fevereiro, 2022

Tens a certeza que queres encarnar na Terra ?



 Tens a certeza que queres encarnar na Terra?

 

"Tens a certeza que queres encarnar na Terra?"

Decisão está tomada.

- "Estás ciente dos desafios que enfrentarás?"

- Eu nunca encarnei naquele planeta antes, então não sei o que realmente significam os conceitos de "medo", "dor", "solidão" ou "tristeza". Talvez o que mais me preocupa seja o da "morte" ...

Não entendo a ideia de deixar de existir para sempre: isso é impossível, mas os humanos acreditam que é assim.

 Seja como for, minha alma quer "descer" e experimentar tudo isso, trazer minha luz e contribuir com meu ser para a mudança de consciência.

- Quando estiveres lá embaixo, limitado pelo corpo físico e te perguntando o que fazes naquele lugar, "entenderás" ... deste estado de consciência, não pode nem intuir o que significa experimentar densidade e limitação.

- "Eu assumo o desafio ...

- Então, se essa é a tua vontade, só posso  desejar-te uma feliz viagem pelo mundo tridimensional e lembrar de que estaremos contigo, a partir desta dimensão, observando-te e guiando-te.

Se conseguires abrir o seu coração o suficiente, uma tarefa que não é nada simples, serás capaz de "ouvir" e perceber nossos sinais.

 - "E qual é a melhor maneira de abrir o coração?"

- "Presta atenção, escuta sua voz interior. Deixa-te ir e deixa ir a resistência de que as coisas na Terra não são como desejas. Aceita-te como és. Somente dessa maneira podes aceitar os outros e honrar o aprendizado deles.

 A paz e o amor que surgirão em ti, como resultado dessa aceitação, automaticamente te colocarão em "contato" conosco.

- "Ok, eu vou manter isso em mente."

- "Não, meu amigo ... vais esquecer."

São as regras. Terás de lembrar disso na medida que em que o teu corpo físico, já contaminado com julgamentos, apegos e crenças negativas, cresce e se torna adulto.

 A luz da tua alma deve emergir através das trevas do medo, desconfiança e incompreensão. Confia, temos certeza de que serás capaz de a alcançar.

- O que é aquilo?

- "É a barriga da tua mãe terrena." E aquele pequeno embrião com membros que  podes ver por dentro é o corpo físico no qual encarnarás.

 

Boa viagem, Alma das estrelas!

 

Text: desconheço autor 


18 fevereiro, 2022

O Tempo passou e me formei em Solidão !


 

O TEMPO PASSOU E ME FORMEI EM SOLIDÃO .


 Sou do tempo em que ainda se faziam visitas. Lembro-me de minha mãe mandando a gente caprichar no banho porque a família toda iria visitar algum conhecido. Íamos todos juntos, família grande, todo mundo a pé. Geralmente, ao final da tarde. 

Ninguém avisava nada, o costume era chegar de paraquedas mesmo. E os donos da casa recebiam alegres a visita. Aos poucos, os moradores iam se apresentando, um por um.

- Olha o compadre aqui, garoto! Cumprimenta a comadre.

E o garoto apertava a mão do meu pai, da minha mãe, a minha mão e a mão dos meus irmãos. Aí chegava outro menino. Repetia-se toda a diplomacia.

- Mas vamos nos assentar, gente. Que surpresa agradável!

A conversa rolava solta na sala. Meu pai conversando com o compadre e minha mãe de papo com a comadre. Eu e meus irmãos ficávamos assentados todos num mesmo sofá, entreolhando - nos e olhando a casa do tal compadre.

Retratos na parede, duas imagens de santos numa cantoneira, flores na mesinha de centro... Casa singela e acolhedora. A nossa também era assim.

Também eram assim as visitas, singelas e acolhedoras. Tão acolhedoras que era também costume servir um bom café aos visitantes.

Como um anjo benfazejo, surgia alguém lá da cozinha, geralmente uma das filha e dizia:

- Gente, vem aqui para dentro que o café está na mesa.

Tratava-se de uma metonímia gastronômica. O café era apenas uma parte: pães, bolo, broas, queijo fresco, manteiga, biscoitos, leite... Tudo sobre a mesa.

Juntava todo mundo e as piadas pipocavam. As gargalhadas também.

Para quê televisão? Para quê rua? Para quê droga? A vida estava ali, no riso, no café, na conversa, no abraço, na esperança....

 Era a vida respingando eternidade nos momentos que acabam.... Era a vida transbordando simplicidade, alegria e amizade...

Quando saíamos, os donos da casa ficavam à porta até que virássemos a esquina. Ainda nos acenávamos. E voltávamos para casa, caminhada muitas vezes longa, sem carro, mas com o coração aquecido pela ternura e pela acolhida.

 Era assim também lá em casa.. Recebíamos as visitas com o coração em festa... A mesma alegria se repetia. Quando iam embora, também ficávamos, a família toda, à porta.

 Olhávamos, olhávamos... Até que sumissem no horizonte da noite.

O tempo passou e me formei em solidão. Tive bons professores: televisão, vídeo, DVD, e-mail... Cada um na sua e ninguém na de ninguém. Não se recebe mais em casa. Agora a gente combina encontros com os amigos fora de casa:

- Vamos marcar uma saída?

Ninguém quer entrar mais.

Assim, as casas vão se transformando em túmulos sem epitáfios, que escondem mortos anônimos e possibilidades enterradas. Cemitério urbano, onde perambulam zumbis e fantasmas mais assustados que assustadores.

Casas trancadas.. Pra quê abrir? O ladrão pode entrar e roubar a lembrança do café, dos pães, do bolo, das broas, do queijo fresco, da manteiga, dos biscoitos, do leite...

Que saudade do compadre e da comadre!

 

Text : José Antônio Oliveira de Resende

Photo byHelga  


02 fevereiro, 2022

A maturidade nos dá muitos direitos.


 

A maturidade nos dá muitos direitos. 

 

A mim, permitiu ter cabelos compridos, coisa que minha mãe não deixava quando criança porque tirava a força do crescer e eu era - ainda sou - magrela. 

 Usar as cores que quiser, tanto na roupa de cima ou de baixo, quanto no batom, sem o olhar punitivo do pai. Dormir e acordar quando me der vontade.

 Esperar uma madrugada toda só para ver o sol nascer.

 

Sair de casa antes de amanhecer para esperar que o dia chegue sem ter que dar satisfação a alguém.  Depois contar e rir muito ao ser chamada de louca.

A maturidade me trouxe à tona pequenas loucuras acumuladas ao longo dos anos e que - ainda bem - soube administrar.

 Hoje, lido bem com tudo isso. Não sofro porque os três filhos já estão voando nesse mundão, ao contrário, sinto um dever cumprido. E bem. Nessa maturidade que vivo agora, não cabem mais ofensas, controles, punições ou julgamentos.

 Cheguei no lugar onde sempre quis estar: em mim mesma. Falo sozinha das minhas alegrias e também das tristezas. Paredes não respondem, paredes não me criticam por ser quem sou. E sou poeta. E sou mulher. E amo a vida. Sou fã do passado, pois me fez. Amo o presente.

Quanto ao futuro, que venha. Nada sei sobre ele tampouco pretendo saber. Quando as surpresas chegarem, estarei de braços abertos e as apertarei contra o peito com o mesmo amor. E se vierem as ruins? Terei força, prometo.

 Na maturidade, posso recordar amores - e tive grandes! Amei muito, fui por demais amada. Conheci os dois lados, acertei, errei e cheguei até o hoje. Tive filhos, tenho netos, escrevi livros, plantei muitas árvores, flores.

 Cuido bem disso tudo. Amo a fotografia, amo tudo o que deu certo e o que não deu também, pois me ensinou a ser melhor. Perdi sonhos. Muitos, entretanto tenho esperança de ter outros.

 Ainda dá tempo e eu sei disso muito bem. Enquanto o futuro não chega, enquanto os novos sabores, quereres, amores não chegam, vou prosseguir sorrindo em cores.

Vai um vermelho aí?

 

Text : Roseli Broering, 2015/2022

Photo by Helga ( Sambaqqui beach )