23 março, 2022

Manezinho quem és tu ?..Comemorando Floripa 349 anos !

 


Manezinho quem és tu ?

Antes de qualquer coisa, ter nascido na Ilha de Santa Catarina, seja na Carmela Dutra, na Carlos Correia ou mesmo de parteira, ou no continente (leia-se Estreito, ou em puro manezês Streitcho). E não adianta vir com essa história que nasceu fora e veio morar aqui pequenininho.

- Falar manezês fluente, tão rápido que deixa o cristão que te ouve meio tanso

- Falar 60% das palavras no diminutivo (Vais querê um cafezinho com pãozinho ou com bolinho de chuva?) 

- Gostar do cheiro das bancas de peixe do Mercado Público. Nada de tapar o nariz pra comprar camarão

- Ter assistido um Avaí e Figueirense no Adolfo Konder e, de preferência, ter fugido com a bola quando essa era chutada pra fora do campo

- Ter, pelo menos uma vez na vida, subido a Avenida Tico-Tico (Rua Clemente Rôvere)

- Ter ajudado a fazer ou ter brincado no boi de mamão

- Ter participado da farra do boi ou, pelo menos, ter fugido em carreira, todo borrado com medo do pobre animal

- Ter se vestido de mascarado e corrido atrás das raparigas nas noites de verão ou assustar a manezada com as caveiras de mamão verde com vela e das cobras de pano

- Ter tomado banho na Lagoa da Conceição sem medo de pegar pereba

- Ter comprado empadinha na Confeitaria Chiquinho

- Ter tomado picolé de coco, sorvete de butiá ou Beijo Frio nas sorveterias Satélite, Ilhabela ou Barão

- Ter saído em bloco de sujo no carnaval, vestido de mulher e continuar gostando de rapariga

- Ter guardado no rancho: caniço, tarrafa, puçá, cóca, jereré e pomboca ('Prá mó di pega uns sirizinho, uns camarãozinho, uns peixinho...')

- Ter comprado na Venda: bala azedinha; pé de moleque; quebra-queixo; Maria mole, pirulito açucarado em forma de peixe, bala Rococo, tablete Dalva, Guaraná Pureza um copo de groselha (grosel) ou refresco da Max William. 

- Acreditar em bruxas e ter ouvido pelo menos uma história de Franklin Cascaes

- Ter assistido na TV Cultura um filme no "Poltrona 6" e, para as senhoras, o programa Celso e a Sociedade (a Metralhadora Platinada)

- Entender tudo o que o Miguel Livramento fala

- Tentar descobrir para qual time da Capital o Roberto Alves torce e não acreditar naquela história de que ele ainda é torcedor do Paula Ramos

- Ter ouvido o programa do Jorge Salum e ter tentado ganhar uma caixa de maçãs respondendo perguntas sobre conhecimentos gerais

- Sentir enorme prazer ao comer uma boa posta de tainha frita, com ´pirão de nailo', ou então, aquele berbigãozinho ensopadinho derramado sobre um pirãozinho de feijão

- Ter curtido um baile de carnaval no Lira, no LIC, no Doze ou no Limoense

- Ter assistido desfile de escola de samba e de carro alegórico ao redor da Praça XV

- Ter participado de alguma turma da cidade (do muro da Mauro Ramos, do Kiosky, da Marquise, entre outros)

- Ter dado um tapa na orelha do César Cals na Novembrada e ter chamado o General Figueiredo de ... (Tu sabes o que)

- Defender a mudança do nome da Cidade para Nossa Senhora do Desterro

- Só comprar peixe, ou outro fruto do mar no mercado, aos sábados, só prá rever os amigos e sentir a alma do lugar

- Ficar horas no Ponto Chic, tomando cafezinho e discutindo sobre política, futebol e mulher (não obrigatoriamente nessa ordem)

- Ser Figueirense e secar o Avaí 

- Ser Avaí e secar o Figueirense

- Falar mal de qualquer árbitro que apite um clássico

- Ter andado em ônibus da Empresa Florianópolis, Limoense, Taner ou da Trindadense

- Ter ouvido a Neide Maria Rosa no 'Amarelinho'

- Ter comprado um bilhete de loteria federal da Lurdes (com redinha na cabeça e tudo)

- Ter chorado a morte do Zininho e do Aldírio

Ter conhecido o Bataclan, o Gogóia (essa pouca gente se lembra, era da Figueira)

- Ter ouvido as histórias do Capa Preta

- Ter ouvido previsões do A. Seixas Neto

- Ter frequentado, ou apenas conhecido, o Miramar e lamentar, profundamente, a burrice daqueles que permitiram a demolição de um dos principais marcos culturais na nossa cidade

- Ter entrado como 'piru de fora' em festa de 15 anos, baile de debutante ou casamento de 'granfino'

- Ter comprado na Modelar, no Ponto 75, na Grutinha (êta nome sugestivo); nas Casas Coelho; na A Capital; nas Casas Macedônia no Beco; no Saco e Cuecão; na Aki Calças e Aki Camisas e, é lógico, na Miscelânia, que era o paraíso da criançada.

- Ter assistido, na sessão vespertina, um filme no Roxy, no São José, no Ritz, no Glória, no Jalisco, no Carlitos ou no Cecontur

- Ter assistido peça teatral no Álvaro de Carvalho

- Ter visto carnaval com o Rei Momo Lagartixa

- Ter 'melado a cueca' na boate do Doze, do Lira, na Dizzy etc

- Ter dado 'uma sarradinha' de madrugada no 'Kuxixos' e na antiga beira-mar

- Ter ido a um baile de formatura no Clube do Penhasco

- Ter ouvido muitas histórias dos bailes no Clube Quinze

- Ter visto a procissão do Senhor dos Passos descer a Rua Menino Deus

- Se emocionar ao ouvir o Rancho de Amor à Ilha e cantar baixinho como se fosse uma oração

- Reverenciar todas as manhãs a Figueira da Praça XV e ter nela o marco inicial do amor que temos por nossa terra

- Adorar vento sul 

- Amar o verão, pegar tainha no inverno, ver Garapuvu florido e rezar a Nossa Senhora do Desterro pedindo proteção para que o progresso desordenado não destrua nossos últimos valores

- Saber abrir um siri "guerra azuli" sem se estrupiar todo, inclusive o coitado do crustáceo

- Ter participado da festa da laranja, na Trindade, e da festa do Divino na praça dos bombeiros

- Ter batido um dominó com os amigos e passar por baixo da mesa porque recebeu uma lisa

- Ter alguma vez, ou achar o máximo, passeado com o coleirinha, tico-tico, canário da telha, ou outro qualquer passarinho de gaiola, levando-o para dar uma voltinha pelas ruas do bairro para aquele solzinho da hora

- Conhecer alguma lenda da ilha e acreditar que já viu uma "luz de bota"

- Ter tirado foto no lambe-lambe embaixo da figueira da praça XV

- Trocar xingamento com outros manezinhos e ficar tudo bem, pois entre manezinhos de verdade o xingamento faz parte do espírito da coisa, é claro que só entre conhecidos

- Ter feito pescaria de costão com linha de "nailo"

- Ter se acocorado no lodo, pra catar berbigão e ainda descascá-lo na unha, com aquele caldinho ainda quente

- Ter catado marisco de mergulho na Galheta ou Joaquina, e ou ainda ostra nas pedras, e ainda ter saboreado estas delícias recém assadas acompanhadas de uma cachacinha pura ou boa caipirinha 

- Ter apreciado um Terno de Reis

- Ter participado de um arrastão de algum lance de tainha, na Barra, Santinho, Lagoinha, Ingleses ou outra praia da Ilha.

- Ter assistido pelo menos uma apresentação da Banda de Amor à Ilha em algum evento cívico.

- Ter conhecido os carros de mutação das Grandes Sociedades Carnavalescas quando abrilhantavam os carnavais de rua em volta da praça XV de novembro, até a década de 80

- Ter brincado de "quirica" e "pandorga" (sem cerol, mas com gillete) nos tempos de criança

- Ter participado de uma farinhada em engenho

- Lembrar do som ímpar de um carro de boi ou de uma roda de engenho

- Ter comido manjuvão frito sem catar espinha

- Ter “robado” tainha por trás da rede durante a cercada

 

 

Text : Heitor Blum SThiago

Photo by Helga - Praça 15 Novembro

Floripa

 


21 março, 2022

Você é o mar que fica.

 


"Ainda que pareça impossível de superar.

Ainda que isso pareça te esmagar todo dia.

Ainda que o desespero tente te fazer parar.

Aguente mais um pouco, não desista de você por nada, por ninguém.

A dor é a onda que passa.

Você é o mar que fica."


 

photo by Helga
Praia Brava beach

11 março, 2022

Morte Esperada !


Morte esperada

Quando alguém morre, a primeira coisa a fazer é nada. Não saia correndo e chame a enfermeira. Não atenda o telefone.

Respire fundo e esteja presente na magnitude do momento.

Há uma graça em estar ao lado da cama de alguém que você ama enquanto eles fazem sua transição para fora deste mundo.

No momento em que dão seu último suspiro, há uma sacralidade incrível no espaço. O véu entre os mundos se abre.

Estamos tão despreparados e sem treinamento para lidar com a morte que às vezes surge uma espécie de reação de pânico.

"Eles estão mortos!"

Sabíamos que eles iriam morrer, então o fato de estarem mortos não é uma surpresa. Não é um problema a ser resolvido. É muito triste, mas não é motivo para pânico.

No mínimo, sua morte é motivo para respirar fundo, parar e estar realmente presente para o que está acontecendo. Se você está em casa, coloque a chaleira no fogo e faça uma xícara de chá.

Sente-se ao lado da cama e apenas esteja presente à experiência no quarto.

O que está acontecendo com você?

O que pode estar acontecendo com eles?

Que outras presenças estão aqui que podem apoiá-los em seu caminho?

Sintonize toda a beleza e magia.

Pausar dá a sua alma uma chance de se ajustar, porque não importa o quão preparados estejamos, uma morte ainda é um choque.

Se entrarmos direto no modo "fazer" e ligarmos para o 190 ou para o hospício, nunca teremos a chance de absorver a enormidade do evento.

Dê a si mesmo cinco ou 10 minutos, ou 15 minutos apenas para ser. Você nunca terá aquele tempo de volta se não o aceitar agora.

Depois disso, faça a menor coisa que puder. Ligue para a única pessoa que precisa ser chamada. Envolva todos os sistemas que precisam ser ativados, mas envolva-os no nível mínimo.

Mova-se muito, muito, muito, lentamente, porque este é um período em que é fácil para o corpo e a alma se separarem.

Nossos corpos podem galopar para frente, mas às vezes nossas almas não os alcançam.

Se você tiver a oportunidade de ficar quieto e presente, aproveite. Aceite, se aclimate e se ajuste ao que está acontecendo.

Então, quando o trem começar a andar e todas as coisas que acontecem depois de uma morte entrarem em ação, você estará melhor preparado.

Você não terá a chance de recuperar o fôlego mais tarde. Você precisa fazer isso agora.

Estar presente nos momentos após a morte é um presente incrível para você, é um presente para as pessoas com quem você está e é um presente para a pessoa que acabou de morrer.

Eles estão a apenas um fio de cabelo de distância. Eles estão apenas começando sua nova jornada no mundo sem um corpo.

Se você mantiver um espaço calmo ao redor do corpo deles, e na sala, eles são lançados de uma forma mais bonita. É um serviço para ambos os lados do véu.

 

Texto: Sarah Kerr

 

02 março, 2022

As dores vão passar !




"Quero que saiba que, por mais difícil que esteja agora, vai passar.
As dores, assim como as alegrias, não são eternas.
São como dias de verão que parecem infinitos, mas passam e vão, como os invernos rigorosos que trazem saudades, mas também vão, como a primavera se despedindo depois de forrar o chão de flor.
E não é sobre romantizar as dificuldades, nem tentar diminuir o que lhe corrói o coração, é sobre se acolher nesse momento, se conhecer por dentro e saber que, sempre haverá outros dias, outros caminhos, outros sóis, outras manhãs."



text : Eunice Ramos
photo : by Helga ,Nova Trento (Santuário Santa Paulina)