A ORAÇÃO DE UMA MÃE ARREBENTA AS PORTAS DO CÉU !
Oração de mãe é uma couraça, nunca sucumbe,
sustentando-a durante as noites insones e as horas de prece velando nossa
febre, durante a madrugada sem fim de nossa adolescência, à espera de nosso
telefonema, à espera de nossa voz viva, diariamente, a todo instante.
Não
dá para escrever sobre mães sem que as palavras enveredem por um viés deliciosamente
piegas – ouso até dizer que toda mãe é babosa. Senão vejamos: quem é que
fantasia o bebê para tirar fotos e mostrá-las às amigas, toda cheia de si? Quem
chora nas apresentações da escolinha? Quem guarda o primeiro dentinho que cai,
molda o pezinho, vibra com o primeiro “mama” – ou algo parecido – que ouve do
filho? Pois é, mães são amor em estado puro, desprovido de censuras e
etiquetas, de qualquer senso que possa existir. E é exatamente isso que as
torna essenciais, indispensáveis, inesquecíveis e únicas em nossas vidas.
Nós
recebemos tudo delas: sangue, matéria, existência, essência – quer elas tenham
ou não nos gerado em seu ventre. Crescemos com elas ali, sempre presentes, e
vez ou outra olhamos em busca de seu olhar de aprovação. Mãe é a segurança, o
esteio, o porto-seguro para onde voltamos, mesmo que em memória, quando dos
reveses da vida. Não existe cafuné mais gostoso, comida mais saborosa, cheiro
mais penetrante ou voz mais acalentadora do que de nossas mães. Sabemos que,
quando ninguém mais nos der razão, no colo das mães encontraremos repouso
consolador.
Por
outro lado, elas também sabem ser críticas, mordazes, ferinas, num primeiro
momento, quando fugimos às suas expectativas. Porque precisam colocar pra fora
todo aquele ranço acumulado, para que o encantamento de seu coração possa
transbordar livre, trazendo-nos de volta à realidade. Ao final, elas sempre
acabam nos aceitando como somos, em tudo o que nos define. Elas até tentam nos
moldar e nos conduzir à sua imagem e semelhança, mas invariavelmente acabam nos
deixando livres – e nos amando ainda mais por sermos nós mesmos e por termos
nos tornado quem somos.
Coração
de mãe é uma couraça, nunca sucumbe, sustentando-a durante as noites insones e
as horas de prece velando nossa febre, durante a madrugada sem fim de nossa
adolescência, à espera de nosso telefonema, à espera de nossa voz viva,
diariamente, a todo instante. Mães têm uma fé absurda e a força de suas orações
chega a gritar aos nossos ouvidos – Chico Xavier disse que a oração de uma mãe
arrebenta as portas do céu: alguém duvida? Elas estão ali ao lado dos filhos,
firmes, esperançosas, quando nada mais parece ter salvação, à cabeceira das
sessões de quimioterapia, à porta dos prontos-socorros, em frente aos portões
das prisões. Mãe é esperança sem fim, fé inconteste.
Mães
não erram deliberadamente, posto que em razão do amor. O filho é seu projeto de
vida, sua perpetuação nesse mundo, o legado que deixa à sociedade, por isso
elas relutam tanto diante das falhas, dos vícios e dos erros de seu rebento.
Aceitar as imperfeições do ser humano a quem outorga sua vida requer
desconstruir-se, ressignificar paradigmas, abrir mão da felicidade completa e
sofrer, frustrando planos acalentados em vão. Mas nada é em vão, em se tratando
de mãe e filho. Sorvemos tudo o que vem delas, mesmo que fique adormecido,
aguardando o momento certo de vir à tona em nosso favor – sempre em nosso
favor.
Mãe
também é solidão. Porque ninguém, a não ser elas mesmas, conseguem compreender
o que é tudo isso que lhes é tão peculiar. Um amor que transborda além do
permitido, um amor que cura, acalma e alimenta a alma. Um amor que nunca
desiste da esperança, presente ali nas casas de repouso e nos asilos, onde
aguardam ansiosas pelas visitas esparsas, ou mesmo inexistentes. Mãe é
persistência, é crença indelével na capacidade do ser humano. É aceitação e
resignação, sem questionamento nem cobranças. E precisamos que elas assim o
sejam, pois nos são exemplos da necessidade de nos entregar, de acreditar, de
amar, de aceitar e de brigar por aquilo que se quer.
Mães
não morrem como as outras pessoas – elas são tiradas de nós, abruptamente, sem
aviso, porque nunca estaremos preparados para enfrentar a vida sem elas. E
então vamos nos agarrando dolorosamente às memórias, às fotos, filmes, cartas e
à certeza de que teria sido muito pior se tivéssemos sido nós tirados delas,
tentando nos consolar e aprumar nosso navio que parece navegar à deriva de nós
mesmos, enquanto experenciamos os ambientes sem a sua presença e nos consolamos
com as suas visitas em nossos sonhos. E, nesse processo de luto, somos
obrigados a aprender a viver somente de nós mesmos, sem a ternura, a bravura, a
cafonice e a sabedoria de um de nossos sustentáculos emocionais mais preciosos.
Enfim a dor, burilada e mitigada, transforma-se em saudade contida e em
gratidão por termos sido filhos das melhores mães do mundo.
*O
título deste artigo alude a uma conhecida citação
de autoria de Chico Xavier.