Por que o medo
afasta-nos do amor ?
O medo e o ódio são as antíteses do amor e sempre andam juntos.
Também é importante você saber que o medo é um guardião e que para ir além será
preciso encará-lo de frente e descobrir o que é que ele protege com tanto
afinco. Muitas vezes, o medo está a serviço de proteger apegos. Muitas vezes,
você se mantém apegado por orgulho, por obstinação e não necessariamente por
medo.
Existe muita coisa por trás do medo. Talvez ele seja um dos
sintomas mais evidentes de um desencaixe interno, da insatisfação com aspectos
da vida, sensações que só são sentidas porque você não está onde deveria estar.
Por alguma razão você permanece no lugar que lhe causa sofrimento e muitas
vezes, fica andando em círculos, lidando com os desdobramentos infinitos do
medo, como o medo de sentir medo ou o medo de sentir medo do medo.
Por alguma razão você permanece no lugar que lhe causa sofrimento e
muitas vezes, fica andando em círculos, lidando com os desdobramentos infinitos
do medo, como o medo de sentir medo ou o medo de sentir medo do medo.
Costumo dizer que esse andar em círculos acontece no vale da sombra
e da morte, já que acorda sentimentos aterrorizantes e mantém-no preso ao
sofrimento. Entretanto, isso só acontece porque algo em você, por alguma razão,
nega-se a ver aquilo que está por trás do medo, até porque, se você encarar de
verdade, talvez seja preciso fazer uma mudança em sua vida, saindo então, do
lugar que te faz sentir tanta insatisfação.
Você que está tornando-se um explorador da consciência, disposto a
conhecer-se, deveria olhar de frente para esse medo.
Minha sugestão é para que
você adentre esse núcleo de medo, mesmo que esteja tremendo da cabeça aos pés,
e coloque-se presente.
Então observe: quem é em você que tem tanto medo? Quem é esse que
está tão assustado? É você? Quem é que acredita que a vida é uma ameaça? Quem é
que tem essa crença tão sólida de que a vida é um perigo?
Perceba que você está encantado com uma história que acredita ser a
sua vida. Você está acreditando que esse eu inseguro e amedrontado é você. O
que posso dizer-te é que esse eu conta uma história a seu respeito que foi construída
com base em experiências anteriores, em crenças instaladas no seu sistema
através de uma série de eventos.
Entenda que a mente é condicionada mediante
reforço. Dessa forma, situações mais ou menos traumáticas repetem-se
incontáveis vezes em sua vida até que você passa acreditar que aquilo é
verdade.
Atente para o fato de que nem tudo o que você acredita é verdade.
Devido a essa identificação com o passado, você inevitavelmente acaba
fantasiando o futuro. O medo em você tenta controlar esse futuro, porque você
teme que ele te leve a experienciar a dor que você já viveu anteriormente.
O medo elimina a possibilidade de você confiar na existência e
conhecer o céu aqui na terra. O medo, na forma do controle, não te permite
confiar.
É ele quem conduz o seu veículo porque acredita que se estiver no
volante vai conseguir desviar dos buracos, mas a verdade é que ele está preso e
todos seus movimentos são feitos de dentro do buraco. Quanto maior o medo,
maior o controle e assim, maior a cratera em que ele se encontra.
Essa crença é instalada mediante situações doloridas. Existe dor
por trás de tanto controle. Talvez por trás desse medo você encontre o orgulho
e por trás do orgulho você encontre a dor.
O medo elimina a possibilidade de você confiar na existência e
conhecer o céu aqui na terra. O medo, na forma do controle, não te permite
confiar.
É a identificação com essas situações do passado que não te permite
chegar num acordo e te mantém preso. Dizer que o seu veículo está sendo
conduzido pelo medo ou pelo controle é sinônimo de dizer que você está sendo
conduzido pelo passado. O veículo é o seu corpo físico, mental e emocional.
Eu tenho constantemente lhe convidado a relembrar da fase zero do
processo do despertar da consciência que é ocupar o seu corpo, se colocar total
na ação, pleno aqui e agora. No momento presente não existe medo, porque ele
está relacionado a uma fantasia a respeito do futuro, a uma dor que está por
vir. Você fantasia isso por conta dessas experiências passadas com as quais
você ainda não chegou num acordo.
Geralmente o medo não tem a ver com a realidade. Ele nasce desse
tempo psicológico no qual você transita, do passado para o futuro e do futuro
para o passado.
Esse trânsito gera as fantasias que eu costumo chamar de sonhar
acordado, porque você está aqui com os olhos abertos, mas a sua consciência
está adormecida, sonhando esse sonho que envolve a necessidade de defender-se,
de proteger-se, de controlar.
Eu estou lembrando que aqui e agora não existe necessidade de
controlar. Aqui e agora você simplesmente se move de acordo com o fluxo.
A
existência te leva, mas para isso se faz necessário confiar. A confiança é uma
fragrância da presença. Portanto, tudo consiste em colocar-se presente, mas
talvez nesse momento você não consiga nem mesmo visualizar essa possibilidade
de tão tomado que você está por sua história.
Se esse é seu caso, sugiro ir mais fundo nessa história a ponto de
compreender que parte do seu passado você ainda não pode chegar em um acordo.
Partes de você mesmo que sente vergonha e de alguma maneira, precisa negar,
tirar do campo de visão e esconder nos porões. E um dos sintomas da negação é o
medo: quanto maior o medo, maior a negação.
O medo pode até mesmo se tornar patológico, desequilibrando a
química do cérebro, dos hormônios e fazendo com que a pessoa precise ser
medicada. Nesse caso, ela foi tomada pela história que criou. O falso eu se
apropriou completamente do sistema e está conduzindo o veículo, mas esse que
está sonhando esse sonho de ameaça e terror não é você. É um eu que atua
através de você. Quem é você? Você é o seu nome? Você é o seu corpo? Você é a
sua história? O que você realmente acredita ser?
Compreenda a profundidade desse tema. Essa não é uma questão
qualquer. Essa é “a” questão. Talvez essa seja a que realmente faz sentido:
Quem sou eu? Quem habita esse corpo? O que eu estou fazendo aqui?
Quando você faz essa pergunta de verdade, significa que está
começando a despertar desse sonho, mesmo que talvez ainda acredite ser seu
nome, seu corpo, sua história.
Talvez você ainda esteja preso nessa identificação, nesse passado
com o qual você não chegou a um acordo, e para o rio dissolver-se no oceano e
você realmente se lembrar quem é você, faz-se necessário apagar esses rastros.
Chegar num acordo com o passado significa você olhar para trás e
realmente agradecer. Persiga a gratidão e você vai encontrar muitas peças do
seu quebra-cabeça pessoal.
Porque onde existe ingratidão, onde o seu coração
está fechado, onde tem acusação, tem uma ferida que precisa ser tratada. Essa
ferida é como um rastro que te prende; é como cola para essa identificação.
Para concluir, eu quero dizer que esse medo diz que tem algo para
ser curado em você. A cura implica em mudança, mas talvez você tenha aprendido
a gostar de sentir medo e ficar nesse escuro. Sabe aquela coisa que é ruim, mas
é boa? E às vezes o orgulho não permite que você admita que goste de uma coisa
ruim, que não te faz bem. Se tiver coragem de admitir isso, a cura estará
aberta. Por isso mesmo elegi a honestidade como o primeiro valor essencial a
ser cultivado.
Primeiro honestidade consigo mesmo, inclusive a ponto de admitir
que você sente prazer na destrutividade, mesmo que isso lhe custe caro. Assim,
talvez você possa ver que seu carro está encalhado aí. Eu estou disposto a lhe
ajudar, mas é você que tem que sentar no banco do carro e fazer as manobras
para tirá-lo deste lugar em que ele encalhou.
Você vai ter que lidar com sua birra, sua obstinação, sua
impaciência, com os seus demônios. Se tem uma parte em você realmente querendo
sair desse lugar, eu lhe garanto que você consegue. Vamos juntos. Eu te ajudo a
empurrar o carro, mas é você quem tem que segurar no volante e fazer as
manobras.
text : Prem Baba é um
mestre espiritual nascido no Brasil em São Paulo . Reconhecido aos 36 anos por seu guru,
Maharaj Ji, na Índia, como mestre da ancestral linhagem Sachcha,
Prem Baba tem atualmente milhares de discípulos espalhados por vários
países.
www.sriprembaba.org