O QUE A MEMÓRIA AMA FICA ETERNO.
É que a memória é contrária ao tempo.
Enquanto o tempo leva a vida embora como vento, a memória traz de volta o que
realmente importa, eternizando momentos.
Diante do tempo, envelhecemos, nossos
filhos crescem, muita gente parte. Porém, para a memória, ainda somos jovens,
atletas, amantes insaciáveis. Nossos filhos são crianças, nossos amigos estão
perto, nossos pais ainda vivem.
Quanto mais vivemos, mais eternidades
criamos dentro da gente. Quando nos damos conta, nossos baús secretos – porque
a memória é dada a segredos – estão recheados daquilo que amamos, do que deixou
saudade, do que doeu além da conta, do que permaneceu além do tempo.
A capacidade de se emocionar vem daí,
quando nossos compartimentos são escancarados de alguma maneira. Um dia você
liga o rádio do carro e toca uma música qualquer, ninguém nota, mas aquela
música já fez parte de você – foi o fundo musical de um amor, ou a trilha
sonora de uma fossa – e mesmo que tenham se passado anos, sua memória afetiva
não obedece a calendários, não caminha com as estações; alguma parte de você
volta no tempo e lembra aquela pessoa, aquele momento, aquela época...
Amigos verdadeiros têm a capacidade
de se eternizar dentro da gente. É comum ver amigos da juventude se
reencontrando depois de anos – já adultos ou até idosos – e voltando a se
comportar como adolescentes bobos e imaturos.
Encontros
de turma são especiais por isso, resgatam as pessoas que fomos, garotos cheios
de alegria, engraçadinhos, capazes de atitudes infantis e debilóides, como
éramos há 20 ,30 ou 40 anos.
Descobrimos que o tempo não passa para a memória.
Ela eterniza amigos, brincadeiras, apelidos... mesmo que por fora restem
cabelos brancos, artroses e rugas.
A memória não permite que sejamos
adultos perto de nossos pais. Nem eles percebem que crescemos. Seremos sempre
"as crianças", não importa se já temos 30, 40 ou 50 anos.
Para eles, a lembrança da casa cheia, das brigas
entre irmãos, das estórias contadas ao cair da noite... ainda são muito
recentes, pois a memória amou, e aquilo se eternizou.
Por isso é tão difícil despedir-se de
um amor ou alguém especial que por algum motivo deixou de fazer parte de nossas
vidas.
Dizem que o tempo cura tudo, mas não é
simples assim. Ele acalma os sentidos, apara as arestas, coloca um band-aid na
dor. Mas aquilo que amamos tem vocação para emergir das profundezas, romper os
cadeados e assombrar de vez em quando.
Somos a
soma de nossos afetos, e aquilo que amamos pode ser facilmente reativado por
novos gatilhos: somos traídos pelo enredo de um filme, uma música antiga, um
lugar especial.
Do mesmo modo, somos memórias vivas
na vida de nossos filhos, cônjuges, ex-amores, nossos amigos, irmãos. E mesmo
que o tempo nos leve daqui, seremos eternamente lembrados por aqueles que um
dia nos amaram.
Foto : by
Helga
Texto : desconheço
o autor .