Precisamos
reaprender a SENTIR.
Pensamos demais. Fomos ensinados que esse era o padrão correto e “normal”
(seja lá o que isso signifique).
Ser inteligente, na cultura ocidental contemporânea, é saber pensar.
Curioso como aprendemos tão bem a pensar e como nossos pensamentos nos
têm colocado diante de situações tão terríveis e constrangedoras (é só
observarmos o que tem acontecido com o mundo).
Esse exagero do pensar nos colocou em um estado mental de constante
alerta, de acelerado movimento mental, de incessante fluxo de conexões neurais.
E isso nos deixa cansados; exaustos, na verdade.
E ansiosos. Muito ansiosos.
Vivemos preocupados, pensando com o que vai
acontecer amanhã, na próxima semana, no próximo mês, nos seguintes anos e nas
décadas ainda por vir de nossa existência.
De tanto pensar, nos transformamos em uma sociedade extremamente
racional, ansiosa, egoísta, deprimida, combativa, desconectada da natureza e
autocentrada.
Aos poucos, esse excesso de pensar, foi também nos desconectando, nos
afastando das nossas emoções.
Ensinaram-nos, igualmente, a celebrar algumas e taxar outras como “ruins”
ou “más”.
Tristeza, luto, dor, indiferença, mágoa, ressentimento, inveja, raiva, e
tantas outras foram rotuladas como “emoções negativas”. Diante desse juízo,
avaliamos como inadequados ou indignos esses sentimentos.
Assim, aprendemos a evitar determinadas emoções, já que elas, na maioria
das vezes, nos trariam mais problemas que soluções.
Será?
Esquecemos que o órgão que faz pulsar todo o fluxo em nossas veias e que
nos mantém vivos é o nosso coração. E é dele que parte nosso sentir. Do
centro do peito podemos experimentar as mais diferentes emoções. E todas
elas são igualmente legítimas.
Emoção (e-movere), é aquilo que nos move. Se, portanto, não nos
permitimos sermos movidos por nossas emoções, nossa tendência é a de virarmos reféns
do movimento da mente.
E por que, então, tememos o sentir?
Porque o racionalizamos e julgamos, porque definimos alguns sentimentos
como certos e outros como errados, bons e ruins.
Desconectamo-nos da nossa essência puramente sensitiva e daquilo que nos
faz mais humanos: nossa incrível capacidade de experimentar, em nossos corpos,
um sem-número de sensações.
Quantos de nós nos escondemos atrás de máscaras e rótulos para evitar
entrar em contato com o que sentimos?
O retorno à nossa essência vulnerável, amorosa, luminosa, compassiva,
intuitiva e gregária passa, necessariamente, pela abertura ao contato direto
com o leque de emoções de que somos feitos.
Ao sentir o que habita em mim, aprendo a sentir o outro.
Precisamos, como humanidade, voltar a sentir, individual e coletivamente.
É urgente o chamado de abertura de espaço para escutarmos a sábia voz do
coração.
Abro um parêntesis para falar do meu sentir.
Hoje, sinto medo, muito medo.
Medo do que virá; medo das escolhas que se
me apresentam; medo de errar; medo da escassez, medo de toda uma realidade
ainda desconhecida para mim; medo de perder o que conquistei.
Sinto medo.
E honro esse medo. Sei que a sua face oposta é o amor. E me
permito abrir o peito para experimentá-lo. Sei que a força amorosa que me
habita é muito maior do que este medo que hoje tenta me paralisar.
Sei que, honrando tudo o que sinto, posso integrar e transmutar essas
energias.
Fechado o parêntesis, faço um convite para que você avalie como anda a
sua relação com as suas emoções. Quanto tem se permitido sentir, sem se
anestesiar, sem se distrair, sem fugir?
O contato com as nossas emoções pode abrir um mundo de possibilidades em
nossas vidas. Ao nos autorizarmos a sentir, entramos em contato com o que
de mais sublime existe em nós: nossa vulnerabilidade, nosso amor, nossa
essência.
Permita-se. Sinta.
Você perceberá que isso o faz tão humano quanto cada um de nós.
Text : Lara Lobo