02 fevereiro, 2022

A maturidade nos dá muitos direitos.


 

A maturidade nos dá muitos direitos. 

 

A mim, permitiu ter cabelos compridos, coisa que minha mãe não deixava quando criança porque tirava a força do crescer e eu era - ainda sou - magrela. 

 Usar as cores que quiser, tanto na roupa de cima ou de baixo, quanto no batom, sem o olhar punitivo do pai. Dormir e acordar quando me der vontade.

 Esperar uma madrugada toda só para ver o sol nascer.

 

Sair de casa antes de amanhecer para esperar que o dia chegue sem ter que dar satisfação a alguém.  Depois contar e rir muito ao ser chamada de louca.

A maturidade me trouxe à tona pequenas loucuras acumuladas ao longo dos anos e que - ainda bem - soube administrar.

 Hoje, lido bem com tudo isso. Não sofro porque os três filhos já estão voando nesse mundão, ao contrário, sinto um dever cumprido. E bem. Nessa maturidade que vivo agora, não cabem mais ofensas, controles, punições ou julgamentos.

 Cheguei no lugar onde sempre quis estar: em mim mesma. Falo sozinha das minhas alegrias e também das tristezas. Paredes não respondem, paredes não me criticam por ser quem sou. E sou poeta. E sou mulher. E amo a vida. Sou fã do passado, pois me fez. Amo o presente.

Quanto ao futuro, que venha. Nada sei sobre ele tampouco pretendo saber. Quando as surpresas chegarem, estarei de braços abertos e as apertarei contra o peito com o mesmo amor. E se vierem as ruins? Terei força, prometo.

 Na maturidade, posso recordar amores - e tive grandes! Amei muito, fui por demais amada. Conheci os dois lados, acertei, errei e cheguei até o hoje. Tive filhos, tenho netos, escrevi livros, plantei muitas árvores, flores.

 Cuido bem disso tudo. Amo a fotografia, amo tudo o que deu certo e o que não deu também, pois me ensinou a ser melhor. Perdi sonhos. Muitos, entretanto tenho esperança de ter outros.

 Ainda dá tempo e eu sei disso muito bem. Enquanto o futuro não chega, enquanto os novos sabores, quereres, amores não chegam, vou prosseguir sorrindo em cores.

Vai um vermelho aí?

 

Text : Roseli Broering, 2015/2022

Photo by Helga ( Sambaqqui beach )

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