Canção na plenitude
"Não
tenho mais os olhos de menina
nem
corpo adolescente, e a peletranslúcida
há muito se manchou.
Há
rugas onde havia sedas, sou uma estrutura
agrandada
pelos anos e o peso dos fardosbons
ou ruins.
(Carreguei
muitos com gosto e alguns com rebeldia.)
O que
te posso dar é mais que tudoo que
perdi: dou-te os meus ganhos.
A
maturidade que consegue rirquando
em outros tempos choraria,
busca
te agradarquando
antigamente quereria apenas
ser amada.
Posso
dar-te muito mais do que beleza e
juventude agora: esses dourados anos
me
ensinaram a amar melhor,
com mais paciência e não
menos ardor, a entender-te
se
precisas, a aguardar-te quando vais, a
dar-te regaço de amante e colo de amiga,
e
sobretudo força — que vem do aprendizado.
Isso
posso te dar: um mar antigo e confiável
cujas
marés — mesmo se fogem — retornam,
cujas
correntes ocultas não levam destroços mas
o
sonho interminável das sereias."
Lya
Luft
Texto extraído do livro
"Secreta Mirada", Editora Mandarim -
São Paulo, 1997, pág. 151.
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