Meu Tempo
E, se mais tarde,
quando o tempo romper e meus olhos acinzentarem, me perguntarem o que eu vi da
vida, assim direi: eu vi dias de chuva e de sol, e estive em paz em todos eles,
porque carreguei comigo a serenidade colhida nas horas.
Eu senti tristeza, ao
ver amigos partindo, mas meu coração se renovou com a chegada de tantos outros.
Eu vi muito sol se
levantando, a paisagem se modificando no ritmo das estações, e eu fui me
transformando junto com ela, me quebrando e me refazendo, até conseguir me
achar.
Eu vi crianças
brincando, como se a vida fosse uma eterna ciranda, onde a gente aprende
girando, sorrindo e, muitas vezes, chorando, que é mais forte quem tem uma mão
para segurar.
E de tantas coisas que
eu vi, carreguei comigo a alegria dos lugares por onde andei e a vagarosa
saudade que levei.
Tantos risos bobos que
fizeram minha alma dançar! O café fresco, acompanhante fiel de uma conversa boa
(dessas que varam a tarde e a gente nem percebe), o colo da mãe, ninho para o
qual a gente sempre quer voltar, o abraço que traduz uma vida, sem nada dizer,
os dias de inverno, a chuva fazendo canção, os varais, os quintais, o silêncio
da noite e a sinfonia das manhãs...
E o que eu não vi,
também fez sentido para mim, porque o que faz real diferença na vida, são as
pequenices, as miudezas, as coisas bobas que passam desapercebidas, mas vão
transformando o lugar, floreando o chão para gente passar...
Text : Eunice
Ramos
Photo by Helga
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