12 outubro, 2024

De quantas almas meu espírito é feito?

 

De quantas almas meu espírito é feito?

 

Não sei quantas almas tive, mas por certo muitas foram,  e me deixaram a herança do que sou.

 Às vezes sinto que já fui o que não sou, que desejei e já passou, que estive em lugares que nunca vi e vejo pessoas, em minha mente e sonhos, das quais nada sei.

As células, proteínas, reações químicas e hormônios do meu corpo pensam, têm consciência?

São capazes de saudades, de projetar amanhãs, de fazer sentir o que sou? Qual proteína é capaz de esconder o que não quero,  que sabe o que é sentir solidão, emoção, inquietação ?

Que faz sentir o desespero da ausência, o cansaço da espera, a beleza que me rodeia?

Que reação química desenhou quem escolhi para amar, que gene me faz mudar de ideia instantaneamente e ver o que só eu vejo e permite sentir os caminhos, perceber minha passagem com tudo que penso, digo e faço?

Como explicar o eu que me viu nascer e verá meu corpo sucumbir.

 Este eu , sem colorido biológico, que tem no olhar a esperança, que sente o que está distante e brilha de emoção na presença, que restará aonde eu for e dará adeus quando na terra o corpo fará sua entrega.

Aonde irá meu presente e meu passado ?

 Afinal, tanta coisa sentida é conteúdo do que? É possível dizer: aqui jaz minha alegria, aqui jaz o amor que dediquei, a bondade que espalhei, o socorro que negligenciei, a atenção que não dei, o disfarce dos meus enganos, a plenitude dos meus anos, a beleza dos meus favores?

 Onde ficarão as canções, as emoções, os sentimentos, os perfumes e ardumes, no corpo que soçobrou?

 Por fim, surpreso comigo,  que continuo vivo, buscarei desvendar todas as heranças incorporadas do que já fui e que construiu meu tesouro espiritual, só percebido e entendido em nova aurora elevada que um dia será contada.

  

Text :  Dr. Luiz Alberto Silveira 

 


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